Mas afinal o que ando aqui (no blogue) a fazer?
Tendo um menino novo (este blogue), que ainda por cima me permite reencaminhar questões do género "então o doutoramento?", tenho dito a algumas pessoas "olha estou a começar um blogue sobre o doutoramento!".
As reacções têm sido diversas... "o que é um blogue?", "o que é um doutoramento?", "que giro!", "já mudaste o template outra vez!?", "também quero um!", etc.
Interessa-me conversar sobre uma categoria de reacções em particular: "e tens tempo?! não estás só a arranjar mais uma coisa para não trabalhar?"
estando envolvida na formação de professores, questiono-me se quando pedimos aos alunos para reflectirem, e escreverem essas reflexões, estamos a fazê-los "perder tempo"...
pertencendo a uma comunidade científica, académica, o que for, questiono-me se as interacções que se estabelecem entre elementos dessa comunidade são "desperdícios de tempo"...
identificando-me com a minha função docente até à medula, questiono-me se a partilha dos processos que cada um de nós desenvolve apenas nos "rouba tempo", em nada contribuindo para o conhecimento desses processos por parte de outrém...
valorizando a possibilidade de recordar a minha vida (que me leva a atulhar-me de fotografias, bilhetes, folhetos, programas, etc.), questiono-me se a possibilidade de relembrar estes primeiros meses de angústia e os seguintes de desespero ;-) compensará esta "má ocupação do meu tempo"...
conhecendo-me, questiono-me se não valerá a pena "investir o meu tempo" hoje a dizer que a coisa está atrasada para amanhã me "ver" escrita e por-me a trabalhar!...
Deu-me vontade de rever o que se passou no
II Encontro de Weblogs e o que a Mónica escreveu sobre isso no
B2OB.
Vale a pena estar casada!
Um maravilhoso estudo dedicou-se a
look specifically at the question of how a student’s marital status at the start of graduate school affects the likelihood of graduating and the time to degree of those that graduate.
E ainda por cima centrou-se nas Humanidades! Deve aplicar-se...
Resultados? Entusiasmantes.
Male students who are married at the start of graduate school are on average 3.9% more likely to graduate by any given year and they complete their degree .32 years quicker than single male students. Married female students are not any more likely to graduate but they do complete their degree .21 years quicker than single female students.
Para verificar se a metodologia merece confiança, leiam o artigo. Eu sabia que o casamento ia ser útil para o doutoramento! Ainda há esperança!...
Mónica, prometo estar atenta a eventuais influências positivas de filhos e da IC 19 no processo de doutoramento ... ;-)
Revisão terminada - artigo enviado
Yupi! E agora a espera... Até ver impresso. Será que vai mesmo acontecer? Ainda poderá acontecer alguma coisa negativa? Ter-me-ei esquecido de alguma coisa? Estarei viva quando/se for publicado? ... dúvidas, ansiedades, temores.
Investigação que eu gostava de fazer
Se há coisa que eu acho brilhante, nesse fascinante mundo da criatividade em desenhar investigações, é o recurso a fontes a que ninguém liga. Há toneladas de informação esquecida e mal-amada que diz muito sobre variados aspectos da nossa vida. Se na investigação social já se conhecem exemplos, como análise do lixo, que comprovam que negligenciamos boas fontes, hoje encontrei um exemplo na biologia marítima.
Esta notícia na Nature.com dá conta de um estudo sobre peixes e mariscos em risco de extinção que baseia parte da sua pesquisa nos menus de restaurantes!
Fisheries experts are using old restaurant menus to piece together how the world's seafood stocks have declined over the past century and a half. Prices dating back to the 1850s highlight the growing scarcity of foods such as lobster, swordfish and oysters.
Que outra informação andará por aí inutilizada embora útil?
Revisão de um artigo
Estou a iniciar agora (provavelmente tarde demais, logo se verá!) a revisão do meu primeiro artigo peer reviewed. Três pareces distintos: um acha que está tudo lindo e perfeito (3 cincos e 3 quatros numa escala de 1 a 5), o outro sugere algumas reformulações, muitas das quais foram lapsos meus (ai ai ai!), o terceiro só aceita com reformulações e dá-me uma verdadeira sova!
Procurei inspiração sobre como lidar com as críticas:
E estou pronta a empreender a fantástica viagem de revisão! Tudo com o objectivo de publicar numa revista científica com peer review!! Parece pouco? ... A mim sabe-me bem!
Como me revejo!
Mas ainda estou numa fase de celebrar cada frase!!!
Retirado desta excelente bd: http://www.phdcomics.com/
11 razões que tornam o doutoramento pior do que ter um bebé
1. Three months before your due date, your doctor doesn't say,
"I want you to go back and re-do the first trimester's work."
2. Unlike advisors, you can switch doctors without having to start over.
3. Conceiving a baby is WAY more fun than conceiving a topic.
4. You know exactly how long a pregnancy takes.
5. Friends and relatives don't question the worth of a baby.
6. You don't need to explain repeatedly to friends and family what it takes to make a baby...
and why you're not through yet.
7. No one will make you go to grad school before having a baby.
8. Everyone will say your baby is cute and you'll believe them.
9. Babies don't require proper footnoting or adherence to a style manual.
10. You can freely borrow other people's stuff if you're having a baby and not be accused of plagiarism.
11. No one will complain if your baby is too similar to another one.
retirado daqui:
http://venus.uwindsor.ca/courses/edfac/morton/ph_d__humour.htm
Tentar o humor...
... como forma de motivação!
Já conheço há muitos anos: Matt Groening explica as pós-graduações de uma forma brilhante... Fica aqui uma pergunta chave:
E uma imagem do futuro!
Mais vale prevenir...
... por isso estou a pensar visitar amiúde
PhinisheD. Passo a explicar porquê.
This discussion and support group is for you if:
- You are sick to death of people asking you "How is your dissertation [or thesis] coming?" (but you really would like to talk about your troubles in finishing -- with anybody except those who keep asking, no matter how genuinely concerned they may be, or may seem to be).
- You have vague fears about finishing, but don't feel you have a safe outlet for discussing whatever it is you seem to be afraid of.
- You're having organizational problems or blocks.
- You are not getting the kind of support you need -- from your university, your employer, your family members or friends.
- You've been in this stagnant state of incompletion, and want to help those still plugging, or failing.
Se houvesse um para quem não consegue arrancar a 100%... isso é que era!
desbloqueios
Uma coisa boa num processo de doutoramento é que, apesar do "solipsismo" que lhe é inerente, temos orientador(a)! Também temos comunidade científica e colegas. E de entre este envolvente vêm vários apelos, incentivos, empurrões, desafios, que vão ajudando a centrar a atenção e o investimento no doutoramento. Percebo que estou cada vez mais embrenhada e empenhada. Já me sabe mais a entusiasmo do que a receio pensar que estou efectivamente a arrancar com o doutoramento!
A pior expectativa concretiza-se
Nem uma semana depois de iniciar o relato dos meus temores e ansiedades, as coisas já estão a descambar. O início do ano lectivo tem sido tão caótico e tão cheio de situações que implicam questionar amargamente a profissão docente e os profissionais que a desempenham, para além dos futuros profissionais que agora se formam, que o apelo da cozinha e da roupa para passar se faz ouvir por todos os poros!
No meio de tudo, pensar em acabar o projecto, corrigir o artigo para publicar levando em conta as sugestões de referees com opiniões distintas e escrever um abstract para mais um congresso quando ainda nem consegui pedir autorização de deslocação para os do próximo mês NÃO APETECE! ou então é a única hipótese de manter a sanidade mental quando tudo parece estar a perder qualquer tipo de referencial de normalidade e justiça...
Logo vejo o que vou fazer no serão de hoje...
Gestão do tempo
Sempre que me queixo da falta de tempo, que agora já substitui por má gestão do tempo da minha parte, lembro-me de uma história que li num e-mail há cerca de 5 anos.
Um formador da área da gestão numa sessão sobre gestão do tempo (o que mais poderia ser!...) coloca um frasco grande em cima da mesa e enche-o de pedras. Pergunta à audiência se cabe mais ou se está cheio? e todos podem ver que está cheio e respondem que está cheio. O formador apresenta gravilha que despeja para dentro do frasco. A gravilha preenche os espaços deixados pelas pedras. E torna-se possível "meter" mais qualquer coisa onde já não cabia mais nada... repete a pergunta à audiência que, avisada, esita na resposta. Surge areia que consegue ainda passar por entre a gravilha. E sempre cabe mais qualquer coisa! Desta vez todos esperam ter terminado... Mas verifica-se ser possível encher, desta feita totalmente, o frasco deitando água por cima da areia, da gravilha e das pedras.
Interpretação em termos de gestão do tempo? Podemos sempre meter mais qualquer coisa! Mas não só, diz o formador. Se não colocarmos as coisas grandes (saúde, família, etc.) em primeiro lugar, elas não cabem.
Boa metáfora. Pequena dúvida minha: e como é que eu sei o que é que não é grande? Saúde e família, "eu própria" são coisas grandes... E a formação dos meus alunos? O apoio total que disponibilizo? E a afirmação da área de educação de infância na instituição? E os projectos que foram lançados e que requerem dedicação para terem continuidade? Com parceiros envolvidos e ansiosos... E os resultados de trabalhos realizados o ano passado que necessitam de ser divulgados?
AI!
E depois da ideia?
Pensar em termos gerais o que queria estudar foi relativamente simples. Muitas temáticas da área da educação exigem um aprofundamento de análise que se coaduna com as exigências de um doutoramento e, dentro desse âmbito alargado, encontrei algo que me motiva e fascina. Acho que é legítimo descrever o meu projecto como uma militância que necessita de dados para se poder expressar em voz alta. É, portanto, algo que acredito necessita de ser investigado e divulgado.
E agora? No início do processo surgem-me várias dúvidas, nem todas passíveis de ser descartadas como inseguranças de novata. Vejo o caminho que quero empreender mas sinto instabilidade relativamente a essas decisões. Sinto que devia ler mais mas sem saber por onde vou, o que leio? Alguns conceitos chave precisam de ser aprofundados, sem dúvida... espero ter a constância necessária para que a aprendizagem feita com base nessas leituras não se perca entre planificações para corrigir e aulas para observar... Precisava de fazer log-in e log-out do doutoramento com a certeza de que nada se perdia e era possível retomar a sessão exactamente onde a deixara, e com os conhecimentos frescos! Vai ser difícil...
O começo
Tudo devia ter começado no Carnaval de 2003. Estando, na altura, a trabalhar num projecto de investigação e fresquinha depois da defesa do mestrado, percebi o que queria fazer no doutoramento. Este "percebi" merece ser explicado... Estava a tentar adormecer quando duas ideias de conjugaram na minha cabeça: meta-análise qualitativa de investigação produzida numa área e educadores de infância passaram a produtores de conhecimento com a alteração de qualificação de bacharelato para licenciatura. E assim nasceu a ideia do projecto que rapidamente foi apresentada à orientadora que, incrivelmente, viu nela potencial.
Passaram alguns anos... a ideia tem amadurecido e sido ampliada. Mas produção: zero. Ontem tive reunião com a paciente orientadora e parece que é desta que a coisa levanta vôo. É do processo daqui para a frente que espero dar conta neste blog.
A cada momento que penso sobre a proximidade dos dias de "conseguir meter o trabalho do doutoramento no meio disto tudo que é a minha vida" ocorre-me: queria ser doméstica! Grito desesperado de uma vida em caos...